(continuação)

Segundo o próprio Penrose sua teoria é “especulativa” e, para muitos, tal teoria é uma bizarrice implausível. Mas, suponha que descubramos que a teoria de Penrose estava correta, com tal resultado entenderíamos melhor quem nós somos? Ou entenderíamos melhor a nós mesmos? Uma teoria científica é o único tipo de entendimento?

Bem, você pode perguntar que outro tipo existe? A resposta de Wittgenstein a esta questão é, segundo meu ponto de vista, seu maior e mais negligenciado contributo. Ainda que Wittgenstein tenha mudado seu pensamento entre sua primeira e segunda obra, sua oposição ao Cientismo foi constante. A filosofia, ele escreveu, “não é uma teoria, mas uma atividade”. Ela é conseguida não após uma verdade científica, mas sim após a clareza conceitual. No Tractatus esta clareza é obtida através da correta compreensão da forma lógica de nossa linguagem a qual, uma vez obtida, está destinada a permanecer inexprimível. Coisa que levou Wittgenstein a comparar suas próprias proposições filosóficas a uma escada a qual deve ser jogada fora uma vez que tenha sido usada, depois de subirmos através dela.

Na sua última obra, Wittgenstein abandonou a ideia de uma forma lógica e com a noção de “verdades inefáveis”. A diferença entre ciência e filosofia, ele agora acredita, se dá entre duas formas de compreensão: a teórica e a não teórica. Ou entre a teorética e a não teorética. A compreensão científica é fornecida através da construção e teste de hipóteses e de teorias, a compreensão filosófica, por outro lado, é resolutamente não teórica. O que buscamos na filosofia é a “compreensão que consiste em ver as conexões”.

A compreensão não teórica é o tipo de compreensão que obtemos quando dizemos que compreendemos um poema, uma peça musical, uma pessoa ou mesmo uma sentença. Tome-se o caso de uma criança que aprende sua linguagem nativa. Quando ela começa a compreender o que é dito a ela, isto se deve ao fato de ela ter formulado uma teoria? Podemos responder afirmativamente a esta questão – e muitos linguistas e psicólogos disseram exatamente isto – se desejamos, mas é uma maneira enganadora de descrever o que ocorre à criança. O critério que usamos para dizer que uma criança compreendeu o que foi dito a ela é se ela se comporta apropriadamente – ela mostra que compreendeu adequadamente a ordem “coloque este pedaço de papel no lixo” ao obedecer a instrução.

Outro exemplo preferido de Wittgenstein é o caso de compreensão de uma peça musical. Assim, como alguém demonstra que compreendeu uma peça musical? Bem, talvez ao tocá-la de maneira expressiva, ou por descrevê-la através de metáforas adequadas. E como se explica o que significa “tocar de maneira expressiva”? O que é necessário, diz Wittgenstein, é uma “cultura”: “se alguém chega à maturidade numa cultura particular – e antão reage à música de tal-e-tal maneira – você pode ensinar-lhe o uso da frase “tocar de maneira expressiva”. O que se requer para este tipo de compreensão é uma forma de vida, ou seja: um conjunto de prática comunal compartilhado, juntamente com a habilidade de ouvir e ver as conexões feitas pelos praticantes desta forma de vida.

O que é válido para a música é também válido para a linguagem ordinária “compreender uma sentença” diz Wittgenstein nas Investigações Filosóficas, “é mais como compreender um tema musical do que se possa imaginar”. Compreender uma sentença, da mesma forma, requer a participação na forma de vida, o “jogo de linguagem” ao qual ela pertence. A razão pela qual os computadores não possuem compreensão das sentenças que eles processam não é por lhes faltar uma suficiente complexidade neuronal, mas sim por que eles não são e nem poderão ser, parte da cultura que a sentença pertence. Uma sentença não adquire significado através da correlação, um por um, entre suas palavras e os objetos do mundo, antes, ela adquire significado através do uso que se faz dela na vida comunal dos seres humanos.

 

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s