A imagem ao lado é de uma cena do filme Vertigo de Alfred Hitchcock. Adiciono esta imagem como uma espécie de visualização do emaranhado de teorias e hipóteses que nos fornece a ciência. Antes que um empreendimento totalmente claro, a ciência atualmente é um grande conjunto de técnicas ou tecnologias e teorias. Contudo, recentemente alguns filósofos e outros intelectuais se reunirão em uma espécie de encontro promovido por uma universidade Inglesa a fim de tentar compreender que tipo de resposta se poderia fornecer à acusação de Sthephen Hawkins de que a filosofia está atualmente morta. Na verdade as palavras do falecido Sr. Hawkins foram “Muitos de nós nos preocupamos com estas questões a todo momento [aqui Hawkins se referia aos problemas de investigação do espaço lançadas pelo Large Hadrom Colider]. Mas todos nós devemos, algumas vezes, nos perguntar: por qual razão estamos aqui? De onde viemos? Tradicionalmente estas são questões para a filosofia, mas a filosofia está morta. Os filósofos não se mantiveram em sintonia com os grandes desenvolvimentos da ciência, especialmente da Física”. Pois bem, para o Sr. Hawkins a filosofia está morta, uma vez que os filósofos não agregaram à filosofia as novas e fantásticas descobertas da física ou de outra área qualquer da ciência. Como todo filósofo também gostaria de lançar algumas ideias sobre esta acusação ou constatação da morte da filosofia. A primeira e tradicional é que a filosofia tem o estranho costume de enterrar seus coveiros. Pois bem, o Sr. Hawkins se foi, sua obra cairá no esquecimento já que acompanha um período da ciência e das possibilidades metafísicas retiradas das teorias da ciência. A filosofia continua, mesmo que acusada de estar morta. Bem, esta é uma resposta mais que maldosa quanto às afirmações do Sr. Hawkins.
Em segundo lugar, notemos a razão que serve de base para acusar a filosofia de ser um cadáver ambulante (se tanto): os filósofos não se apropriaram ou tomaram atenção às novas descobertas da física. Bem, neste caso, já se parte de uma ideia pronta (ainda que não apresentada em detalhes), isto é, de que a física tem algo à dizer para a filosofia. Ou, pelo menos, que as questões filosóficas poderiam ganhar alguma clareza com os avanços da física. Bem, tudo depende do que se entende por “filosofia”, quais suas questões e o que esta filosofia (definida da forma desejada) necessita. Podemos ter alguma pista se prestarmos atenção ás perguntas que o Sr. Hawkins apresenta como sendo “filosóficas”, a saber: por qual razão estamos aqui (neste mundo), de onde viemos (para este mundo)? Ora, Hawkins considera como questões filosóficas perguntas que ou se originam na Cosmologia ou se originam de aspectos existenciais. Creio que ele pensava em Cosmologia, considerando que ele se dizia um “cientista”. Há um ensaio de George Edward Moore “Uma defesa do Senso Comum” em que Moore apresenta várias proposições que, segundo ele, são sabidas de todos. Moore elenca várias proposições que expressam nosso “senso comum” (que não é equivalente ao do homem da rua). Assim, que tenho um corpo, que vivi sempre próximo da superfície da terra, que tenho pais, que o fogo queima, seriam proposições inegáveis ainda pelo mais empedernido dos céticos. Claro, Moore termina o ensaio sem saber como provar que são verdadeiras. Ludwig Wittgenstein dedicou-se a ler este ensaio e o credita como “fabuloso”. Moore apresenta proposições que são empíricas, mas não são oriundas da ciência. Assim, algumas crenças como a religiosa nos forneceriam respostas ás perguntas Cosmológicas de Hawkins. Certamente ele não as aceitaria, mas sua base seria meramente um Cientismo tacanho que nega à crença religiosa qualquer relevância. Sob tal ponto de vista, Hawkins seria objetado até pelos membros do Círculo de Viena, que considerariam suas perguntas “metafísicas” e menos importantes para um empreendimento racional. Hawkins é um cientificista e não um cientista. O pessoal do CPV era mais esclarecido e mais sábio. Certamente eles chamariam a “teoria do tudo” de “grande besteira do Hawkins”.
Talvez a pergunta mais importante seja “por qual razão a filosofia não morre?” Se considerarmos bem a questão, a Teologia (infelizmente) já não interessa a mais ninguém e ficou restrita às universidade confessionais. Ainda que não esteja morta, a Teologia está em estado de dormência. Mas por que o seres humanos ainda se preocupam com a filosofia? Por qual razão os cursos de graduação em filosofia ainda recebem estudantes? Por qual razão as editoras ainda publicam livros de filosofia? Como é possível que algo sem interesse algum para as pessoas, ainda esteja vivo? Isto Hawkins não saberia responder, uma vez que para ele a morte da filosofia era apenas uma questão de “atestado de óbito”, quer dizer, de constatar a morte da filosofia. O fato é que a filosofia não está morta pois ela é a pergunta fundamental do ser humano sobre si mesmo “como entender o mundo em que se vive?” Com a ciência? Com a teologia? Mas o que se quer entender quando se pergunta pela compreensão do mundo? Estas questões são do ser humano e não apenas da academia de filosofia ou de teorias da filosofia. Portanto, concluo com o seguinte: a filosofia não morre, pois o ser humano não morre. Ao menos não no sentido em que Hawkins diz que a filosofia está morta. A contribuição da filosofia é um grande “zero” e aí está sua “utilidade para o ser humano”: depois de tudo que poderia fazer de “útil”, o ser humano se pergunta por qual razão fez tantas coisas “úteis” e o que considerou “útil”. Este tipo de questão é a questão do ser humano que busca seu sentido de existir (sem ser existencialista, é claro).
Considero que o Sr. Hawkins foi muito útil ao ser humano com suas obras, seus escritos e sua inteligência. Mas considero tudo que o Sr. Hawkins escreveu uma grande inutilidade e perda de tempo. Ao fim do dia, se quer saber por qual razão manter-se vivo e, quanto a isto, o Sr. Hawkins em nada contribui.
Estimado professor Arturo Fatturi,
Boa tarde.
Antes de tudo, gostaria de parabenizá-lo pelo excelente trabalho no LD da UNISUL.
Sou aluno de Filosofia e não pude deixar de notar a distinção do seu raciocínio, da sua prosa e da sua pedagogia, que mesmo em temas complexos e até certo ponto áridos, tornam-se simples e cognoscíveis por meio de sua redação e narrativa. Quem dera todos os LD’s da UNISULVirtual fossem assim…
Pois bem, escrevo-lhe agora pois gostaria de entrevistá-lo para uma das revistas que contribuo regularmente: Filosofia Ciência e Vida e Sociologia Ciência e Vida, ambas de circulação nacional e tiragem expressiva. Um possível recorte que interessaria aos leitores e também aos editores poderia ser os desafios da educação à distância.
Se o amigo tiver interesse nesse diálogo, basta me escrever:
a-quaresma@hotmail.com
Sem mais, com um abraço fraterno,
Alexandre Quaresma.
Olá Alexandre. Obrigado por seu comentário e pelo reconhecimento de meu trabalho. Elaborei aquele LD com muito cuidado , mesmo assim, alguns erros apareceram. Fico contente em saber que não atrapalharam a compreensão. Quanto ao convite que você me faz, fico contente em participar. Por favor envia email para arturo.fatturi@yahoo.com. Abraço
Alto nível de discussão! Parabéns!